Tião Nicomedes é Escritor. E, por ser um homem sem teto fixo, inventou a si próprio. E desta autoinvenção nasceu o escritor de rua como ele mesmo se define.
Porque toda identidade dele se dá no lado de fora, numa vivência entre aqueles que não apenas são destituídos de casa, como perderam os laços com família, emprego, contas a pagar, refeições com horários, finais de semana de lazer, tudo aquilo que constitui uma identidade do homem inserido na sociedade, bem ajustado.
Nascido em Assis, interior de São Paulo, Tião perdeu os pais ainda criança. Foi então, morar em Sabará MG com uma irmã, freira – hoje missionária em Moçambique. “Com 18 anos, vim pra São Paulo, fi z muitas coisas até começar a trabalhar como Letreiro”.
Em 2003, ainda no ramo, Tião Decidiu abrir com alguns colegas um pequeno negócio, arrumando o novo local de trabalho, Tião Sofreu um acidente ao cair de um toldo e fraturou gravemente o braço. Quando se apercebeu só no hospital, sem perspectivas de lugares, amigos, família, tentou inicialmente ir morar em uma pensão, porém, a rua acabou se Tornando seu lar.
Nos dois meses que morou na rua – no Parque D. Pedro II, centro de São Paulo -, Tião conheceu personagens, histórias de vida, de perda de esperanças e de luta. Ainda com o braço machucado, foi procurar ajuda médica em hospitais públicos. “Fui tirar o gesso. Aí, um médico, Dr. Samuel, do Hospital do Pari, uma pessoa muito importante na minha retomada de vontade de lutar, me explicou a gravidade , aconselhou-me bem e fez o possível para que eu conseguisse uma vaga para Operar, o que acabou acontecendo. ”
Foi então que Tião resolveu ir para um albergue.
Do período em que ficou na rua, Tião se lembra de um senhor que pediu para que ele escrevesse uma carta para a família dele.
“Ele disse: Você é letrado, podia escrever uma carta para o prefeito, o presidente, para ver se eles fazem alguma coisa pra gente. Aí, vi que tinha uma vantagem de poder levar a voz dessas pessoas para fora” conta,. É nessa perspectiva que se insere uma sua Peça teatral Diário de um carroceiro, um monólogo que retrata a história do carroceiro Quim.
A militância de Tião não se limita ao teatro, desde o ano de 2003 tem atuado ativamente nos movimentos de luta por moradia da capital paulista e na sua página na internet o diario tiao, recheado de relatos e autorelatos da vida nas ruas, oferece um mergulho no universo das pessoas que moram nas ruas ou como o próprio Tião diz: “Os sem país” que para além de qualquer preconceito necessitam mostrar sua face mais real por meio da palavra, sua humanidade.
Fonte: www.diariotiao.zip.net; Revista Época Eliane Brum.